vendredi 30 novembre 2007

Recensão crítica do livro “Messieurs les enfants”

Recensão crítica do livro “Messieurs les enfants
de Daniel Pennac

Messieurs les enfants” é uma obra menos conhecida fora de França ou dos países francófonos (pelo menos da qual se ouve falar menos) do autor Daniel Pennac mas não menos importante ou até intrigante do que outras tais como “Comme un Roman”, ou até a trilogia apresentada numa caixa (quase se poderia dizer de luxo – há cerca de 10 anos apareceu como trilogia numa caixa de três obras, hoje já está à venda a caixa com seis obras) com as obras «”Au Bonheur des Ogres”, “La Fée Carabine” e “La petite Marchande de Prose” (que diga-se de passagem ganhou um prémio em 1990 – Prix du Livre Inter 1990)»; ou então como “Monsieur Malaussène” ou ainda como “Des chrétiens et des Maures”.

No entanto, a editora “Éditions Gallimard” através da Collection Folio, não hesitou em publicar, em 1997 à Mesnil-sur-l’Estrée em França, mais uma obra deste autor reconhecido mundialmente .

Daniel Pennac, nasceu em 1944, em Casablanca em Marrocos. Tem uma grande experiência como professor de letras, uma grande paixão pelos livros e pelos alunos e uma grande relação com a ficção e o imaginário.

A história desta obra propõe a troca de identidades de crianças para adultos e vice-versa e tudo o que isso possa comportar em termos físicos, psicológicos, emocionais e relacionais, mas sob uma visão “décalée” deslocada. As crianças em corpanzis de adultos não têm maturidade suficiente para entender certos acontecimentos e os adultos quase deixaram de saber fantasiar a realidade e quando alcançam a graça de o saber fazer, tornam-se excessivos nos seus comportamentos.

Tudo começa com um simples tema de produção escrita, vulgarmente conhecido como composição. A obra inicia-se com a mesma frase que a termina “L’Imagination ce n’est pas le mensonge” (A imaginação não é a mentira). O tema da redacção é: “Vous vous réveillez un matin et vous constatez que, dans la nuit, vous avez été transformé en adulte. Complètement affolé, vous vous précipitez dans la chambre de vos parents. Ils ont été transformés en enfants. Racontez la suite. » (Acorda uma manhã e constata que durante a noite se transformou em adulto. Muito aflito, corre para o quarto dos pais. Eles estão transformados em crianças. Conte o que se segue.) .

As personagens principais têm muita acção ao longo de toda a obra. Senão vejamos, o professor Crastaing, cujo papel é bastante importante, passa de ditador detestável a criança tímida e amedrontada. Este procura sempre através das produções escritas solicitadas aos seus alunos o tema da família – assim talvez consiga entrar na vida familiar que nunca teve. Por fim e após a metamorfose de encolhimento em que também teve de fazer a redacção com o mesmo tema por ele proposto, o professor torna-se mais “fixe”.

Os alunos e as suas famílias inversam as posições em que se encontram.

O aluno Igor Laforgue, que tem 13 anos, vive com sua mãe Tatiana, que é russa. O seu pai Pierre faleceu numa operação às amígdalas (o que, diga-se de passagem – é absurdo, pois tal como a mãe do Igor refere – “nínguem morre das amígdalas”. Entretanto, o referido vai conversando com o progenitor fantasma.

O discente Joseph Pritsky vive com seu pai Pope e sua mãe Moune, de vez em quando recebe a visita, que não é muito desejada, do seu avô Papidou Joncheville.

O rapaz Nourdine Kader, que tal como podemos depreender do seu nome de família é árabe, vive com sua irmã Rachida e seu pai Ismaël, este tendo passado de motorista de taxi a pintor sonhador.

E como não podia faltar o Rabbi Razon também dá ar da sua graça nesta obra. Ainda aparecem algumas personagens secundárias mas não menos importantes, como o polícia Éric. Ou então os auxiliares escolares M. Foiriez et M. Lanval.

No final da obra o polícia Éric casa com Rachida, Tatiana (mãe de Igor) volta a casar-se, desta vez com Ismaël (pai de Nourdine). Isto após terem passado pelo encolhimento infantil a que os levou a redacção imaginada por seus descendentes.

O desenrolar da obra vai submergindo do nada, do simples ao complexo, da realidade à imaginação, da verdade à mentira. Do sonho à realidade, da fantasia ao realismo. Da metamorfose...

O autor de “Messieurs les enfants”, Daniel Pennac, emprega o estilo tão comum nas suas obras, inconfundível e avassalador, levando o leitor para um mundo imaginário, inconcebível à partida, mas que ao longo da sua obra se vai desenrolando como se de algo de verídico e inverosímil se tratasse, chegando ao ponto em que acreditamos realmente no que lemos e aí, então sim, entramos nas personagens e vivemos um romance maravilhoso. Pode parecer infantil, mas não é, pode semblar descabido de sentido, mas tem toda a razão de ser. Pode não ter qualquer base histórica, mas é tão verdade como nós acordarmos de manhã e nos sentirmos novamente criança. Passa-se da imaginação à realidade, perdemos a noção do que é realmente real ou não e entramos na história

O enredo da obra baseia-se em fazer acreditar que podemos mudar,nós pessoas, simples mortais, de um dia para o outro. Podemos mudar o mundo se pensarmos como uma criança em vez de pensarmos sempre como um adulto.

A personalidade aparece nesta obra como sendo algo de precioso mas não de imutável. E se um dia acordássemos crianças??? Que faríamos??? Nada ou tudo. Tudo depende da visão de cada um!

A conclusão da obra é dada ao leitor com uma máxima “Le sujet devenait réel quand on le traitait, ça arrivait vraiment!” (O tema tornava-se real quando tratado e acontecia realmente).

Por fim, o professor detestado por todos os alunos, conseguiu pôr a turma atenta e interessada: a leitura do tema dado apaixonava toda a turma, enfim por uma vez como se refere na obra.

Até o aluno mais temerário consegue após tais aventuras indagar “Porque é que acaba tão bem?”. Este pensamento remete-me ao “Meilleur des Mondes” de Candide. Onde... tudo acaba bem num mundo que nem sempre é o melhor!!!



Maria Clara de Sá Couto Wildschütz

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